Um grupo de gaijos faz uma jantarada de vez em quando. De que se fala no JOG?
segunda-feira, novembro 06, 2006
A cultura é de esquerda?
Não podia estar mais de acordo com isto.
Já agora uma pergunta para os arquitectos. A arquitectura é cultura?
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4 comentários:
Não quero entrar em grandes filosofias e nem sequer vou negar algumas verdades - por entre as falácias - do texto do João César das Neves. Agora, fiar-me na opinião de um gaijo que bem que podia tar a viver no séc.XVII... é, noutros textos que já li, completamente retrógado, ao melhor estilo "padreca". Já quanto à arquitectura, é como tudo. Para uns é cultura, para outros dinheiro, para outros são tijolos, para outros uma perda de tempo. É um pouco de tudo... Eu acho que o intruja podia dar aqui uma ajuda!
Claro que nem sempre concordo com as opiniões do J C das Neves nomeadamente em questões religiosas mas quando a análise é feita aos problemas do nosso país quase sempre tem razão.
No que toca à cultura mantenho que não podia concordar mais com ele.
Tomando como exemplo alguns casos que ao longo dos anos se têm passado aqui no Porto (rivolições, porto 2001 e casa da música, só para lembrar os mais conhecidos), percebe-se perfeitamente o gigantesco negócio que é a dita cultura feita de intelectuais para intelectuais e que nós comuns mortais não conseguimos perceber (porque somos todos uns imbecis). No fundo tratam-se de subsidio-dependentes que se vão revezando no lugar (ora críticos, ora produtores) para continuarem a manter o status quo (ou seja, financiamentos a produções/espectáculos que ninguém quer ver).
Obviamente que a pergunta que faço em relação à arquitectura é uma provocação. A pergunta que eu queria ver respondida por vocês arquitectos é, acham que a arquitectura é tal como a "cultura", é dominada por um pequeno grupo que se auto-nomeia e se auto-elogia mantendo-se assim permanentemente no topo?
Abraço
Conheço-te suficientemente bem para saber que 99% deste comentário é pura provocação, mas é disso que eu gosto!
Primeiro ponto, o JC das Neves é um bócó. Não faz sentido dizer que ele para umas coisas até sabe mas nas outras é morcão. É um triste e ponto.
Em segundo lugar, eu até fico surpreendido que tão facilmente engulas essa estória dos subsídio-dependentes, porque normalmente não te deixas enganar facilmente. Como é evidente, isso é uma grande léria, e na maior parte dos casos é discurso oportunista e popular dos rui rios e saloios que tal, com os quais quero deixar claro, não tenho nada a ver. Aliás, se ele é contra é porque isso está bem.
Que eu saiba, os incentivos fiscais para as empresas, os planos de investimento em novas tecnologias, a não tributação de lucros acima de x, os offshores, o arrendamento jovem, as bolsas de investigação científica, os apois da fpv para ir a campeonatos, o erasmus e etc... tb são subsídios ou ajudas ou que lhe queiras chamar. Há muita gente que se aproveita, é verdade, mas também muitos são sérios e dão melhor destino a esses subsídios do que muita gente anti-susbsídio-dependente que anda para aí a estourar dinheirinho do pápá vindo sabe-se lá de onde. Não me parece que aches que o Fantasporto se tenha transformado numa espécie de culto porque o tio Belmiro fez uma análise de mercado e descobriu que o que o Zé Povão gosta é de sangue e tripas... se calhar começou, e continua, com subsídios, foi conquistando um determinado público, e agora não só é sustentável como também é um sucesso comercial. As vezes é preciso dar um empurrão aos jovens empreendedores...
Os três exemplos que escolheste não cabem no mesmo saco. O Rivoli é uma das principais (e únicas) salas de espectáculos municipais. Foi reabilitado no máximo há dez anos e para isso a câmara, com o dinheiro dos impostos dos nossos pais, investiu bastante dinheiro. E não há muitas alternativas - o Carlos Alberto é uma churrasqueira. Até aqui, tudo mal em privatizar a gestão do rivoli. Também é verdade que os espectáculos que tem são um bocado para as elites. Podes não gostar, e na verdade a opção é discutível. Mas visto não gostar de rádio festival, do senta-te e ri e da floribella, acabo por preferir os espectáculos que nos estimulam do ponto de vista cultural, porque são novos e nos desafiam, e porque me identifico com eles. Esses tais para os intelectuais. Mas eu sou um dos ignorantes que deixou que a "rivolização" acontecesse, não percebo nada de teatro ou de dança e não vou a um concerto de música de câmara há mais de cinco anos... Aliás, nunca paguei um bilhete, foram-me sempre oferecidos! Tenho de dar o braço a torcer! A gestão privada pode ser boa e trazer um público mais vasto ao rivoli. A não ser que o programador seja o filipe la féria.
Já o Porto 2001, foi mesmo uma oportunidade perdida. Lembro-me bem de ter tentado ir dois ou três espectáculos no RIVOLI e "surpresa", no dia em que os bilhetes deveriam ser postos À venda, já ninguém arranjava nada. É que nesses dias já não mos ofereceram a mim, já tinham dado aos 300 funcionários do BPI que depois nem foram porque nesse tava a dar o Big Brother e era o dia do Telmo sair. Em relação ao que me toca mais, a arquitectura, as obras feitas não são nada de especial e tardam em cair no esquecimento, o que neste caso é mau sinal. o Porto 2001 foi um grande fiasco. Excepto...
a CASA DA MÚSICA. Caralho, é o único resquício de contemporaneidade aqui da vilória. Ainda bem que custou muitos milhões, porque por menos tinhamos ficado com um "teatro-viola" igual aos outros todos e isso não interessa. Foi caro, tou-me a cagar, espero que gastem muito e mal mais vezes, que para mentes tacanhas já chega o já citado Rui River, e pelos vistos é a única maneira de fazer qq coisa útil. Já com o Metro é a mesma estória.
Como percebeste, não sou um defensor da cultura popular - não gosto de no S.João ir ver os pobrezinhos a dançar, não gosto de ir ás putas, não gosto de palitar os dentes nem de cuspir para o chão. Por isso, não defendo o que não gosto.
Voltando ao início, a "cultura" de que o JC das Neves fala deve-lhe ir ao cú ou qualquer coisa do género, porque tanto preconceito, só mesmo na cabeça de um padre. Aquele salto da "cultura" para a União Soviética foi genial - há quem faça o mesmo mas salte directamente para o Maomé e para o Abraão.
Como com muitas outras palavras, o sentido da palavra cultura é abrangente, mas só se deixa confundir quem quer. É claro que a cultura não tem esquerda nem direita, aliás, basta pensar nos meus amigos "cultos" para ter a noção que o espectro é bem abrangente. Agora o que esse JC das Neves prega é uma variante do clássico "se a minha avó tivesse rodas era uma bicicleta". A maior parte dos acontecimentos "culturais" é promovida por pessoas de esquerda e isso é uma evidência. E não me fodam, não é só porque A promove B e vice-versa. Se a direita quiser, que tire o dinheiro de baixo do colchão e mostre que a "cultura" é mais plural do que o Sr.das Neves anda praí a dizer.
Mas ok, tenho de admitir que a "cultura" de que falas existe, na arquitectura também! Mas uma peneirada à esquerda e uma à direita devem ajudar a equilibrar o prato.
E para terminar, mais vale rico e com saúde(direita) do que pobre e doente(esquerda).
Não vou voltar ao JC. Ele se quiser que te convença que tem razão.
Vou explicar melhor a minha opinião porque pelos vistos percebeste mal:
Se reparares eu falei nos subsidio-dependentes de uma certa cultura. Obviamente que acho que deve haver apoios a projectos importantes/relevantes.
O problema é exactamente esse. A qualidade desses espectáculos/produções feitos por e para intelectualóides deve ser avaliada de modo a definir se é merecedor de apoio ou não. O que se passa é que a atribuição de subsídios é feita de amigos para amigos e tudo se passa dentro de um círculo muito fechado. Não há exigência de mínimos e os "artistas" fazem a primeira trampa que lhes vem à cabeça. Pior, este esquema actual é tão perverso que qualquer um que queira entrar nesse meio mesmo que tenha ideias ou projectos de qualidade não tem a mínima hipótese.
Já vi (infelizmente) alguns espectáculos desses e dou-te dois exemplos: uma peça de teatro experimental que consistia em 3 gajos vestidos de branco a atirarem-se contra as paredes e a guinchar e também fui a um festival de música experimental que passado a reacção inicial por achar que estavam a gozar comigo, ri-me mais do que em qualquer comédia que tenha assistido no cinema. Estes espectáculos eram financiados e estavam, por motivos óbvios, às moscas.
Ao contrário do que se pensa quando os espectáculos são da chamada cultura clássica (música, ópera, dança) esgotam sempre. Por isso não aceito a opinião de que se passará do disparate intelectual para o Tony Carreira, Floribela ou Quim Barreiros. Mais uma vez reafirmo que acho importante que haja apoios a projectos diferentes mas têm que provar o seu mérito.
Nos exemplos que dei, talvez por culpa minha, não percebeste o que queria dizer. A Rivolição como sabes foi feita por uma companhia de teatro que tinha tido em cena uma peça que não chegou no total a ter 30 espectadores. O protesto feito contra a gestão privada era no sentido de garantir que essa companhia continuaria a ter apoios e a poder ter espectáculos estapafúrdios e no fim alguém que pagasse a conta. Não estavam minimamente preocupados em saber se o cartaz cultural melhora ou piora por a gestão ser privada, querem é garantir o dinheirinho todos os anos.
No caso do Porto 2001 o que se passou foi verdadeiramente um escândalo. Salas vazias mas não se conseguia comprar bilhetes, "artistas" a receber na hora e em cash (que se lixem as contas e os recibos), colaboradores a viverem num luxo asiático enquanto duravam as iniciativas, obras mal planeadas e pior executadas.
A casa da música tem de ser distinguida em 2 partes. O edifício e o que se passa lá dentro. Como sabes, mesmo enquanto o edifício estava a ser construído e tu estavas fora, ia-te relatando que me parecia estar a ficar excelente. O problema são espectáculos e divulgação que é feita. Quantas vezes se ouve que na semana anterior esteve cá o artista xpto que toda a gente queria ver mas ninguém soube e a sala esteve vazia?
Quanto à minha provocação sobre a arquitectura continuaste a não responder. Há ou não um pequeno grupo dominante (esquerda ou direita à parte) que se auto-promove se auto-elogia conseguindo assim os melhores projectos e dificulta a entrada no mercado de outros arquitectos?
Abraço
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