para o Mr. Mojo...e para todos que se interessarem.
O que estou a escrever em nada contraria o que me disseste, apenas acrescenta algo...espero eu.
A relação entre a funcionalidade da arquitectura, a fruição espacial de um edifício e as características técnicas e estruturais de uma construção, como tu muito bem referiste, sempre funcionou como a melhor forma de projectar e de criar excelentes exemplares de arquitectura. Mas nem sempre esta conjugação e interacção entre os três princípios vitruvianos (firmitas, utilitas e venustas) é totalmente necessária ao desenvolvimento brilhante de um edifício, sendo muitas vezes o elemento construtivo relegado para um segundo plano ou mesmo "retirado" da equação harmoniosa da arquitectura.
Parece-me que, desde sempre, os três princípios se interlaçam na produção arquitectónica, mesmo antes da sua elaboração teórica por parte de Vitruvio. Tanto no Egipto como na arquitectura grega, eles estão presentes, mas é na época romana que eles se revelam na sua totalidade. Um salto até à Renascença, passando pela arquitectura de cariz religioso da Idade Média (especificamente Românico e Gótico), e continuamos na presença da conjugação da três principais qualidades referidas. Até que chega o Barroco e a solidez do firmitas começa a fraquejar. O que te quero dizer é que me parece que nesta altura a arquitectura começa a revelar um maior interesse nas qualidades espaciais e estilísticas, aliadas a novas e velhas funcionalidades, deixando para trás a presença física da estrutura. Os elementos de sustentação do edifício começam a ser cada vez menos evidentes. Isto é mais tarde reforçado com os neos do século XIX. Não estou a dizer que se perdeu por completo o equilíbrio da trindade arquitectónica...pelo meio continua-se a produzir interessantes edifícios que interelacionam os três (poderia fazer uma piada de cariz sexual, mas não me apetece). Eis que se chega ao Modernismo e acentua-se ainda mais o fosso entre as disciplinas de arquitectura e engenharia. O Corbu diz que não precisamos de nos reger pela estrutura, que esta é uma mera componente técnica disfarçável (embora ache que ele nunca realmente se desligou dela). No limite projectava-se uma estrutura Dominó e só depois se fazia a casa, ou vice-versa. O Pós-modernismo com a sua loucura estilística e simbólica escondeu ainda mais a componente construtiva e o Minimal matou-a por completo. Novamente, ainda existem arquitectos que se preocupam com a equilibrada interacção dos três princípios, como o caso dos brasileiros Niemeyer e Mendes da Rocha, e toda a sua legião nacional de colegas, os High-Techs ingleses e mais alguns pelo resto do mundo. Muitos ismos e muitos nomes, tudo de uma forma generalista e pouco aprofundada (certo am?).
Isto tudo para dizer o quê? Ontem acho que não consegui explicar-me e fiquei com isto na cabeça. Queria dizer que a arquitectura moderna libertou-se da santíssima trindade, mas não a baniu, e que já não se encontra presa aos seus elementos. A possibilidade de relegar um dos princípios para um segundo plano está bem presente em muitos edifícios, sem diminuir a sua qualidade arquitectónica. Com o Eisenman e as suas primeiras casas chegámos à conclusão que até a funcionalidade é dispensável (quem diria?) e com o Blur Building dos Diller&Scofidio a fruição espacial é abandonada... Mas esta dissolução, ou pelo menos parcial libertação, dos princípios vitruvianos reforça a tua análise da excelência do mister Olgiati, pois ao conseguir uma excelente harmonia entre eles consegue fazer algo que muitos não conseguem apenas com dois, e evidencia uma mente pouco interessada nas modas passageiras da arquitectura actual. Assim, fiquei com uma visão diferente do senhor e uma noção bem mais aprofundada da sua arquitectura. Por fim deixo-te um exemplo que vai de encontro com a nossa "conversa"... A Casa Farnsworth, do Mies. Uma nova noção espacial da arquitectura (venustas), uma reinvenção da funcionalidade da habitação (utilitas) e a evidência da carga estrutural no edifício (firmitas).
5 comentários:
Certo :)
É bom saber que levam o sério o provedor deste blog :)
Discordo de tanta coisa que... sendo domingo a noite o melhor é escrever muito pouco.
Não percebo como é que podes escrever que a "arquitectura moderna" (queres dizer o "estilo internacional"?) se libertou da santíssima trindade, quando para o Gropius (segundo a análise do Venturi, etc… no Las Vegas) a Venustas "decorria" do resultado da "soma" da Utilitas com a Firmitas.
Também haveria que falar com mais pormenor sobre a tua leitura da arquitectura do Le Corbusier e da arquitectura Renascentista em particular à “luz” dos “precedentes” da arquitectura Florentina dos séculos XI e XII (S. Miniato al Monte…)
Escolhe o exemplo de uma obra, e aplica-lhe a tua "chave de leitura”: é uma sugestão para evitar as "generalidades" e a sopa de letras dos nomes :)
Um abraço.
Como deves ter percebido, este post tem que ver com uma conversa de cervejas na mão...e normalmente as conversas de arquitectura nestas circunstâncias têm tendência a rondar generalidades.
Também deves ter percebido (até porque o escrevi) que apenas refiro que a arquitectura moderna (considero como o período que começa sensivelmente no princípio do séc.XX e que vem até aos nossos dias) não se rege tão rigidamente pela "tradicional" noção de firmitas, utilitas e venustas, mas que alguns ainda a consideram como fundamental para o acto criativo de projectar.
Relativamente ao Corbusier refiro que o "seu" modelo estrutural Dominó permite uma secundarização da estrutura perante a disposição espacial e funcional. Mas parece-me que ele nunca a realmente secundarizou.
Especificamente vou falar do Souto Moura (que tanto admira o Mies) e as suas primeiras obras. As primeiras casas por ele projectadas raramente revelam a estrutura, e mais importante que isso, a estrutura é subjugada à "vontade" espacial e funcional. A firmitas desaparece porque ele quer que ela não tenha um papel activo na percepção da casa, retirando-a da equação. Assim não existe qq tipo de relação igualitária entre os 3 princípios, mas antes uma subjugação total de um aos outros dois.
A cerveja misturada com sopa de letras dá nestas coisas... uma conversa digital interessante mas com interrupções interpretativas causadas pela distância física entre os intervenientes. Agora falta outra intervenção para completar a trindade! Ou talvez não...
o intruja auto-promoveu-se a provedor? mas qué isto, hmm?
Ta mal, pois ta mal...o intruja esta para o Hestnes Ferreira assim como Jesus Cristo está para Deus, ainda por cima... mal, muito mal...
estava aqui a procurar uma coisa e olha... olha que não, olha que não!
ah, ah, ah, :)
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